Escavação revela segredos da era pré-Uruk: sociedade primitiva que rejeitou governo hierárquico no 4º milênio a.C.; entenda!
Redação Publicado em 04/12/2024, às 10h40
Uma recente investigação arqueológica em um sítio datado do 4º milênio a.C., localizado no Curdistão iraquiano, revelou informações cruciais sobre a ascensão e o declínio de um dos primeiros governos organizados da história.
Os achados consistem em dezenas de tigelas de argila que lançam luz sobre as dinâmicas sociais e políticas daquela época, conforme relatado em um estudo publicado na revista Antiquity.
Desde 2019, pesquisadores têm conduzido escavações em Shakhi Kora, desenterrando uma sequência de estruturas que se estendem por vários séculos. Os artefatos encontrados sugerem uma ligação com Uruk, uma das cidades mais antigas do mundo, situada no atual sul do Iraque.
Em locais associados a Uruk, arqueólogos anteriormente descobriram um grande complexo monumental do final do 4º milênio a.C., além de milhares de tabuletas de argila contendo alguns dos primeiros textos escritos.
No entanto, a recente descoberta em Shakhi Kora inclui mais de uma dúzia de tigelas rudimentares dentro de estruturas institucionais antigas, semelhantes às encontradas em Uruk e outros locais contemporâneos.
Conforme o estudo, essas tigelas eram utilizadas para prover refeições comunitárias em larga escala há milênios, possivelmente destinadas aos trabalhadores ligados a esses edifícios institucionais. Análises de ossos de animais e outros resíduos coletados dessas tigelas indicam que as refeições poderiam ter sido guisados substanciais.
Depósitos encontrados em outras áreas do sítio sugerem que partes dele também podem ter servido a funções rituais. As descobertas apontam que as primeiras instituições governamentais surgiram em parte devido à capacidade de fornecer refeições em larga escala, talvez como forma de remuneração pelo trabalho.
Os cientistas também identificaram indícios do posterior abandono dessas estruturas governamentais "sem sinais de derrubada violenta ou estresse ambiental", sugerindo que a população rejeitou esse modelo centralizado e hierárquico de controle.
Claudia Glatz, coautora do estudo da Universidade de Glasgow, destacou que as escavações em Shakhi Kora oferecem uma nova perspectiva regional sobre o desenvolvimento e eventual rejeição das primeiras tentativas de organização centralizada e possivelmente estatal. Glatz enfatiza que formas hierárquicas e impostas de governo não foram inevitáveis no desenvolvimento das sociedades complexas iniciais.
A pesquisa sugere ainda que a ascensão dos governos poderosos e hierárquicos nem sempre ocorreu sem resistência nas sociedades complexas primitivas. As comunidades locais desenvolveram maneiras de resistir e rejeitar tendências ao poder centralizado, concluiu a doutora.
