Novo documentário 'Desastre Total: Festival Astroworld' gira em torno do trágico pisoteamento com mortes em festival musical nos EUA em 2021
Publicado em 11/06/2025, às 18h00
Nesta terça-feira, 10, chegou ao catálogo da Netflix o novo documentário 'Desastre Total: Festival Astroworld', que gira em torno dos eventos de um trágico show do rapper Travis Scott em novembro de 2021 em Houston, no Texas, em que os fãs se envolveram em um brutal pisoteamento que acarretou 10 mortes.
Na ocasião, ocorria a terceira edição do festival Astroworld. A primeira edição ocorreu em 2018, e a segunda em 2019; porém, com a chegada da pandemia de Covid-19, a edição de 2020 precisou ser cancelada — e por isso o Astroworld 2021 era tão aguardado, prometendo superar as anteriores, reunindo dezenas de milhares de fãs em um festival de dois dias.
No entanto, como o novo documentário mostra, o que era para ser um dia de grande alegria se tornou uma armadilha mortal, resultando em dez mortes — entre elas, uma criança de apenas nove anos — e centenas de feridos. 'Desastre Total: Festival Astroworld' é dirigido por Yemi Bamiro, e inclui entrevistas com sobreviventes e especialistas, além de contar com imagens de celulares dos espectadores presentes na tragédia, para explicar como ela ocorreu e o que aconteceu depois.
Conforme repercute a revista Time, o Astroworld foi organizado pela LiveNation, a maior promotora de eventos ao vivo de todos os Estados Unidos. E como vemos no documentário, logo nas campanhas para promover a edição de 2021 do festival, foram utilizadas imagens do Astroworld de 2019, com fãs derrubando cercas para entrar no local do show — o que certamente inflama ainda mais o público.
Vale mencionar que nenhum representante da LiveNation é entrevistado no novo documentário, embora suas respostas sobre o incidente estejam incluídas no texto ao fim do filme, com uma indicação dos papéis da SMG Global e do Corpo de Bombeiros de Houston na definição da capacidade de venda do local, e também a declaração de que todas as partes relevantes já estavam cientes dos planos do evento e dos códigos de segurança. Essa única declaração da empresa foi divulgada no dia seguinte à tragédia.
Ainda assim, algumas figuras que aparecem no documentário atribuem a culpa da tragédia à LiveNation. Entre os entrevistados, estão o especialista em segurança de multidões Scott Davidson, o paramédico Jose Villegas e os seguranças Jackson e Samuel Bush — que, curiosamente, foram contratados apenas algumas horas antes do início do festival —, que buscam retratar o planejamento inadequado que contribuiu para o número de mortos.
Durante todo o dia do show, o palco principal permaneceu desocupado, o que possibilitou que os fãs acamem por horas sob o sol escaldante de Houston, à espera de Travis Scott. E na hora que o show começou, milhares de fãs foram rapidamente para o local, vindos da mesma direção e no mesmo horário, o que criou as condições perfeitas para se formar uma multidão esmagadora.
À esquerda do palco, fãs se afunilavam diretamente para um cercado, empurrando cada vez mais aqueles que já estavam contra as barreiras, sem rota de fuga. Porém, às 21h, quando Scott finalmente apareceu, tudo piorou.
Em algumas imagens da ocasião, é possível observar os fãs se empurrando, sendo asfixiados e esmagados em tempo real, enquanto a performance continuava sobre o palco. Mais tarde, Travis Scott disse que, durante o show, esteve ciente de alguns desmaios e perturbações, mas que não percebeu a gravidade total da situação.
O caso se tornou especialmente polêmico, pois, mesmo que alguns espectadores tenham gritado por socorro enquanto algumas pessoas eram esmagadas e desmaiavam, subirem em áreas restritas para exigir ajuda das autoridades e até chamarem a polícia, o show só terminou uma hora após Travis Scott subir ao palco.
O que Scott Davidson concluiu — e a equipe do documentário consultou um especialista adicional para verificar as conclusões — foi que uma grande falha da organização do festival foi que apenas duas pessoas tinham autoridade para interromper o show, caso ele se tornasse perigoso.
Qualquer tomador de decisão importante [...] deveria ter sido capaz de iniciar rapidamente um processo de interrupção do show, o que deveria ter sido tão simples quanto apertar um botão, figurativo ou literal", afirma Davidson.
Porém, enquanto o show continuava, as vítimas do esmagamento seguiam lutando para respirar e continuar em pé. "Eu só me lembro de pensar: 'Não caia porque você não vai conseguir se levantar'", recorda Sophia Santana, uma sobrevivente.
E a contagem regressiva para as 22h, quando o show de Scott terminou, foi frenética. Em 'Desastre Total', Davidson menciona a transcrição de um gerente da LiveNation falando com um engenheiro de som, uma das únicas pessoas que conseguia falar diretamente com Scott no palco: "Temos quatro Rs (ressuscitação cardiopulmonar) ativas em andamento. Dois provavelmente estão mortos. A situação é muito, muito grave. Há mais vítimas de esmagamento do que eu já vi em meus 25 anos de carreira".
O ex-comandante da Polícia de Houston, Mark Lentini, também atribui a responsabilidade da tragédia aos organizadores, e não à resposta policial. No documentário, ele ressalta o quão previsível o caos da entrada não autorizada e salto de cercas deveria ser para uma equipe de festival organizada.
Mas Davidson vê a situação de outra maneira, visto que, mesmo conforme a medida se agravava, a Polícia de Houston e a LiveNation concordaram em continuar com o show — visto que o próximo a subir ao palco era o rapper Drake —, a fim de evitar "o pânico da plateia". "A ideia de uma apresentação continuar enquanto há uma R em andamento é insana, sem precedentes, para não mencionar múltiplas", afirma o especialista em segurança de multidões.
Após esse episódio traumático, muitos sobreviventes e entes das vítimas criticaram as declarações de Travis Scott, acreditando inclusive que elas não eram sinceras. Desde o Astroworld, foram poucas as vezes que Scott comentou a tragédia; porém, ele faz referência à sua perspectiva do evento na música 'My Eyes', de seu álbum 'Utopia', de 2023, em que diz: "Se eles soubessem o que Scotty faria para pular do palco e salvar seu filho".
De qualquer forma, um grande júri decidiu por não responsabilizar ninguém criminalmente pela tragédia, e as famílias das vítimas receberam acordos extrajudiciais por ações movidas contra o rapper e contra a própria LiveNation.
Vale mencionar ainda que, após o Astroworld, a LiveNation chegou a enfrentar outros problemas legais. Entre eles, está um processo movido pelo Departamento de Justiça por monopolização da indústria musical, outro pelas famílias de um artista assassinado nos bastidores de um festival, e críticas às suas regras de arbitragem hostis.
Por fim, 'Desastre Total: Festival Astroworld' conclui evidenciando que esse episódio traumático e desconcertante segue com perguntas sem resposta — como "por que ninguém impediu?" ou "algo assim acontecerá de novo?" —, e o caso continua como uma mancha na história recente da indústria musical e de festivais dos Estados Unidos.
